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Foto do escritorVale Das Trevas

DEMÔNIO, A QUEDA - introdução ao cenário (Capítulo 08)


 

   Fala, povo! Tudo buenas?


         Mais uma vez, aqui é a Morrigan Ankh trazendo o Capítulo 08 da história de Tural, o Anjo Caído que ocupa o corpo da mortal Débora e que está aprendendo a se virar nesta realidade do século XXI. Como sempre, a história é um meio de apresentar o cenário do RPG "Demônio, A Queda", introduzindo conceitos básicos. Se você está está chegando agora, no final desta postagem, estão os links dos outros capítulos e uma lista do que já foi trabalhado por aqui.

Sem mais demoras, desejo a vocês uma ótima leitura!

Bora lá!?

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 08.CONTATOS [Diversidade]           Passaram-se quase três semanas entre idas e vindas, cigarros, desculpas e nervosismo; de tanto caminhar com Patrício, o corpo de Débora já perdera quatro quilos (um milagre para alguém de metabolismo tão lento). Tural já estava pensando em um plano B, quando Patrício finalmente chegou com uma notícia agradável.           - Eu achei duas pessoas pra você. - disse enquanto acendia outro cigarro. - Uma é minha conhecida de um abrigo, o outro é “ambulante”, mas é gente boa, é só dar algo para comer. Eles estão dispostos a te ouvir.           Se Patrício pudesse ler mentes, teria obtido um “FINALMENTE!!!” nos pensamentos de Tural. O Anjo estava impaciente, para não dizer assustado, com a possibilidade estar cada vez mais enfraquecido, enquanto tinha de lutar contra os empecilhos causados pelo isolamento social.           Caso ele acabasse cruzando caminhos com outros Caídos que escaparam do Abismo, o que ele poderia fazer? Muitos ainda eram leais a Nepesu e outros de seus irmãos, muitos buscariam trazer aquelas abominações de volta. Tural não tinha nenhum interesse nisso, até impediria, se pudesse.           - Uau! Nossa! Que show, Patrício… e… quando isso pode acontecer? Digo, da gente se encontrar.           - Eu posso tentar marcar para daqui uns três dias. Até achar os dois, marcar e confirmar com a senhora, que tal?           - Pode marcar direto. Com essa função de pandemia, eu não tenho muito para onde ir mesmo. Só marca pro início da tarde, num lugar reservado, que não seja a “nossa” praça. - o silêncio do dia-a-dia apenas aguçou a curiosidade da vizinhança e, ultimamente, Tural sentia os olhos atrás de cortinas, escondidos nas janelas, acompanhando seus movimentos como Débora, ao lado de um cara de roupas simplórias.           - Se a senhora tá dizendo…           - Tô sim. Marca de uma vez. Mas não esquece, no começo da tarde, num local mais isolado, tranquilo para ninguém ficar bisbilhotando o nosso lance.           Lendo a expressão no rosto do homem, Tural se sentiu generoso. Estendeu a mão num gesto de cavalheiros para Patrício, uma forma de respeito. Quando Patrício retribuiu o gesto, Tural fez seu melhor para liberar uma aura de vitalidade na área que circundava os dois, enchendo o mortal com uma sensação de bem-estar, como se acabasse de ter aplicado uma espécie de elixir da juventude.           - Patrício, você está demonstrando que cada dia que estamos investindo em você, está valendo a pena! No passado, você jamais teria pensando em falar com outros, mas olha você agora! Você está tornando essa ponte de contatos possível! Você deveria ter orgulho de si mesmo! - disse Tural, como a mulher de nome Débora, para incentivar aquele potencial.           No fundo, quando chegava o fim de cada dia, Tural ponderava sobre o que estava fazendo com Patrício. Ele já teve o impulso de matá-lo, depois, resolveu tornar ele seu servo, seu faz-tudo, salvando-o de um destino curto na ponta de uma agulha cheia de vícios, mas, agora, ficava imaginando até que ponto estava trilhando um caminho abusivo. Tinha certo receio de ser semelhante a muitos de seus irmãos e limitar a humanidade a uma vida de escravidão a seus pés.           “EU SOU TURAL, A LANÇA DAS HORAS, ANJO DA CASA DO DESPERTAR, OU APENAS TURAL, O CAÍDO QUE ABUSA DOS MORTAIS DESDE QUE CHEGOU NA TERRA?” pensava, em sua Forma Apocalíptica, em meio a uma de suas inúmeras meditações noturnas. Quando não era Patrício, era Dona Adelaide. Os sentimentos de Débora vinham como ondas de saudade e ressentimento, às vezes. Débora conhecia outras pessoas, mas Tural se via limitado a ter de explorar apenas essas duas conexões no momento, as duas num raio de até um quilômetro de seu quarto. Em meio a sua meditação, ouviu outra voz:           “TURAL, ONDE VOCÊ ESTÁ? TURAL, POR FAVOR, RESPONDA.” veio a voz através da realidade, tentando alcançá-lo desesperadamente. “RESPONDA, TURAL!”           Era outro Caído, com certeza. Se um Caído sabia seu Nome Celestial, ou seu Nome Verdadeiro, poderia tentar invocá-lo não importando a distância. Era o equivalente de uma rede social, mas com o inconveniente de ter apenas “nomes de familiares”, dos quais, você odeia mais da metade e sem uma lista para nomes bloqueados. Ele não queria contato. Esforçou-se ao máximo para se manter quieto e inatingível. Poderia ser qualquer um, amigo ou inimigo, mas apostava que deveria ser alguém tentando abusar de sua boa vontade. Aguardou por alguns minutos, até que seu nome parasse de ser chamado. “Desta vez, tudo deu certo” pensou.           Três dias depois, Patrício lhe fazia companhia novamente. Desta vez, caminharam mais quadras até chegarem a uma construção abandonada. Os tapumes estavam cheios de pichações e havia lixo no perímetro. Entraram pelos fundos, num local onde a cerca estava levantada, mas era disfarçada por galhos secos.           - Você sabe escolher um lugar amigável para primeiros encontros, hein?!           - Eu costumava dormir aqui, às vezes. Protege da chuva e os seguranças raramente aparecem… Só uma vez que eu fiz um fogo pra aquecer o corpo e alguém chamou os bombeiros… Hehe… - Patrício comentou como se fosse uma memória de infância. Era como se ele realmente olhasse o homem que foi de forma completamente distante de quem estava tentando ser. - Além disso, é um lugar que nós três conhecemos. Daqui a pouco, eles devem estar chegando.           - Legal. Praticamente um esconderijo. Ahn, me ajuda aqui, eu trouxe umas coisas. Seria legal já deixar tudo pronto. - Tural abriu a mochila e começou a mexer em algumas coisas: um lençol velho que usaria como toalha de piquenique, alguns sanduíches, umas bananas, um suco de pacote numa garrafa de dois litros, copos plásticos. - Acha que eles vão gostar?           - Tá se dando ao trabalho de alimentar gente como eu. Eles deveriam dar graças a Deus, por isso! - respondeu Patrício enquanto abria o pote dos sanduíches. - Eu ainda lembro do primeiro sanduíche que você fez pra mim… eu era um merda mesmo…           - OK, vamos combinar uma coisa! - Débora o interrompeu. - Você não vai mais falar de você desse jeito… Não é quem você é hoje, não ajuda em nada. É passado e estamos pensando no futuro agora. - o olhar dela encontrou os de Patrício e se manteve firme – Combinado?!           - Combinado. - Patrício foi vencido por alguma coisa que aquela mulher sempre fazia. Ela era firme, ao mesmo tempo em que tentava mantê-lo longe dos pensamentos ruins. Ele jamais a chamaria de mãe, mas havia algo de zelo daquele comportamento, algo que o fazia querer ser especial aos olhos dela.           Cinco minutos depois, o piquenique estava pronto e os “convidados” estavam chegando. A garota tinha roupas absurdamente largas para o corpo magro que apresentava. Chegou olhando as comidas e acenando de forma débil, sem sorrir. Seu nome era Mariana, Patrício lhe dissera. O homem tinha barba por fazer e cabelos começando a ficar grisalhos, não era gordo, mas barrigudo. O casaco cinza não abotoava mais, deixando roupas puídas aparecerem. Chegou soltando um grunhido que poderia ser confundido com “oi”. Seu nome era Nestor.           - Oi… Err… Esta é a Débora, a mulher de quem eu falei pra vocês. - disse Patrício – Hum, quem sabe a gente senta, né? - e fez sinal para sentarem no lençol.           Os dois olharam para Patrício, depois para Débora.           - Podem sentar, tá tranquilo! - disse Débora – Eu prometo que vai ser só uma conversa! - e esticou o pote de sanduíches para eles – Podem pegar, eu trouxe pra comer mesmo!           Os dois sentaram no lençol, cada um com seu sanduíche na mã… na boca, dada a fome que trouxeram junto. Enquanto se empanturravam dos sanduíches, Tural aproveitou para já ir servindo as bebidas e apresentar sua proposta.           De forma sucinta, Tural apresentou seu plano de melhoria gradual das vidas daqueles dois, contanto que pudessem estar disponíveis, quando houvesse necessidade. Não prometera sustentá-los, mas poderia ajudá-los com suas respectivas saúdes, por exemplo: o homem tinha cirrose e a garota demonstrava problemas de respiração. Não iria convertê-los a uma religião, não os forçaria ir a um abrigo, ou hospital. Queria apenas que eles pudessem ser parte da “equipe”.           Mariana ficou imóvel, terminando o terceiro sanduíche. Nestor terminava o quarto, quando se manifestou:           - Ah… Eu não sei. Eu…           - O senhor nem pensou a respeito ainda… eu gostaria que pensasse nisso, até porque o senhor não anda bem, não é mesmo? Eu poderia muito bem tentar ver uma solução para esse seu mal estar e…           - A senhora não sabe nada de mim!!!           - Não precisa muito para ver que pele e olhos amarelados não são um fator de saúde… O senhor precisa de ajuda… mas, o senhor quer melhorar?           O homem entrou num pequeno estado de choque com aquela afirmação tão direta sobre sua aparência. Mariana parecia hipnotizada pela cena. Tural se esforçou para achar as palavras certas, melhor ainda, as palavras perfeitas, pois era agora ou nunca, ou o Nestor aceitava sua ajuda, ou Tural perderia os dois potenciais contatos.           - Nestor, você precisa de ajuda… e eu também. Não é pena, não é uma forma de te prender, não é uma promessa de que só eu tenho a verdade e a salvação para reconstruir a tua vida. Se eu dissesse isso, seria mentira. Você saberia disso, eu também, todos poderiam ver a enganação. Só que eu tô aqui, agora, porque eu também preciso de ajuda e tô disposta a negociar isso com pessoas que o Patrício escolheu. Ele não me deixaria mentir, eu ajudei ele também. Não foi da noite pro dia, não foi fácil, ainda não é… Mas, nós nos ajudamos do jeito que podemos. É um pouco de comida, um pouco de conversa, uma caminhada na rua para manter o ânimo… pergunta pro Patrício, eu ia visitar ele no hospital, enquanto ele estava mal. A minha ajuda, e eu tô dizendo a verdade, não é de graça, mas eu não quero a sua alma também… - e Tural riu por dentro – E nem quero te coagir, é você quem tem que escolher, porque eu já tô aqui, com a mão estendida. - e estendeu a mão a Nestor.           A tensão do silêncio durou alguns segundos. Todos ficaram de olho no gesto: Débora com a mão estendida, esperando a reação de Nestor. Os olhos doentes do homem encaravam aquela mão como quem iria apertar a mão do próprio Diabo, por fim, cedeu e apertou a mão da mulher. Tural já estava pronto para dar a Nestor o mesmo bem-estar que dera a Patrício noutra ocasião, no momento em que tocassem as mãos. Um pouco de calor, uma sensação de bem-estar, percorreu Nestor. O homem não sabia o que estava acontecendo, mas estava sentindo um pouco de alívio de sua condição.           - Obrigada, Nestor. Mesmo. Obrigada pelo voto de confiança, eu vou fazer o meu melhor para poder te ajudar. Aliás… Eu trouxe uma coisa para todos nós. - disse Débora enquanto abria outro bolso da mochila. - São máscaras que eu comprei na farmácia. As pessoas estão começando a usar com mais frequência, vocês também deveriam, para diminuir a chance de ficarem mais doentes. Vocês podem achar que ninguém vai prestar atenção em vocês, mas isso não quer dizer que não estejam correndo perigo com esse vírus horrível. Por favor, usem.           Cada um ganhou uma máscara. Nestor colocou a sua olhando nos olhos de Débora, e o demônio quase distinguiu uma lágrima de emoção no homem. Mariana demorou para colocar a sua, mas não deixou ninguém se aproximar dela para ajudar. Quando finalmente conseguiu, continuou muda. Comunicou-se acenando positivamente com a cabeça, quando Patrício perguntou “Tudo OK?”.           “Nem a Criação foi feita em um único dia…” pensou Tural. Não estava perfeito, mas era alguma coisa. Se esses eram os mais confiáveis na opinião de Patrício, Tural só imaginava o que seria do resto. Nestor ainda precisaria de mais conversa, mas, Mariana, essa parecia mais difícil. Não era fã de socializar, não falava, não gostava de toques. Concluiu o piquenique após mais algumas frases para apaziguar qualquer tensão e marcou um novo encontro para dali uns dois dias, no mesmo lugar e na mesma hora. Foi para casa.           Após o jantar, Tural assistiu um pedaço de novela com Dona Adelaide e resolveu ir para o quarto. Repassava a tarde inúmeras vezes na mente, pensando em cada palavra dita, em cada reação. “São quarenta e oito horas para deixar eles pensarem em tudo, mas sem tempo demais para esquecerem que eu existo. Além disso, levarei mais comida e…” seus pensamentos foram interrompidos pela voz misteriosa novamente.           “TURAL, RESPONDA! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ NA TERRA!”           O Caído concentrou-se mais uma vez. Torcia para conseguir se ocultar da invocação. Ao que parecia, esse outro Caído não sabia seu Nome Verdadeiro, o que já era um alívio.           “TURAL, NÃO ME IGNORE!!!!! EU VOU DESCOBRIR ONDE VOCÊ ESTÁ!!!!!”

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******* CAPÍTULOS ANTERIORES *******

1) FUGA [do Abismo] --- Nome Verdadeiro, Nome Celestial, Abismo e Corpo Hospedeiro. 2) LEMBRANÇAS [Paralelas] --- Casa, Adão e Eva, Lúcifer, Gehinnon (a primeira cidade), Ressonância 3) RECOMEÇO [Legado] --- Legado, Surgimento da Humanidade, Duas Ordens do Criador, Ahrimal, Grande Debate, Semblantes, Consciência, Eminência, Os nomes de alguns Anjos Rebeldes importantes na história do cenário, Miguel 4) VINGANÇA [Justiça] --- Doutrinas, o fim da imortalidade da humanidade, Casa Flagelo, Doutrina do Despertar 5) REFLEXÃO [Cautela] --- Antecedentes (Fé, Contatos, Recursos), Pacto e Ceifar Fé 6) CIGARRO [Negociações] --- Pacto (investimento), Seguidor, Tormento 7) ASCENSÃO [Poder] --- Antecedentes (Contatos), Revelação, Doutrina Primária

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