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Foto do escritorVale Das Trevas

DEMÔNIO, A Queda - introdução ao cenário (capítulo 01)


 

HELL-o, pessoas! Tudo bem?


Eu sou a Morrigan “Kami” Ankh (dava uma ajuda nas traduções na época do Orkut) e sou uma grande fã do cenário de “Demônio, a Queda” (DaQ) do Storyteller no Mundo das Trevas. Em colaboração com o “Vale das Trevas: da ponte pra cá”, já fizemos alguns podcasts juntos e, agora, fui convidada para escrever um pouco sobre o meu cenário favorito!

A proposta é a seguinte: contar sobre o cenário de DaQ, mas sob a forma de conto. É comentar, inicialmente, sobre o livro básico, mas dentro da interpretação da vida de um demônio criado por mim – TURAL, a Lança das Horas. A cada trecho da história, apresentarei um pouco dos detalhes do cenário, explicando como eles funcionam para a personagem na nova existência que experimenta. Os conceitos já apresentados, começaram a ser listados a partir do próximo capítulo, assim, vocês poderão saber o que já foi trabalhado (haverá um capítulo a cada 15 dias!).

Vale lembrar que este é um trabalho de fã, uma homenagem, para esse cenário maravilhoso, que fala dos Anjos Caídos, não necessariamente de demônios, enquanto procuro ajudar as pessoas a compreendê-lo melhor. Se eu tiver sorte, vocês se inspiram para jogá-lo.

Opa! Já ia esquecendo, deixa eu esclarecer a forma como o texto é apresentado: sentenças que usam apenas letras maiúsculas serão representações da voz angelical/demoníaca das personagens, já que seria o verdadeiro eu delas falando. (Isso ocorre nos livros oficiais e pensei que deve ser mantido para deixar claro quando as falas vão além das simples cordas vocais humanas.) Ainda, as palavras em negrito no meio do texto fazem conexão com as apresentações de conceitos importantes para as personagens e cenário, seguidas de uma explicação.

Dúvidas? Entrem em contato!

Bora lá?! :)

* * * * * * *

FUGA [do Abismo]

Sem luz a seu redor, pode sentir apenas as vibrações vindas de longe. Eram reflexos pálidos das agitações externas que, há incontável tempo, mantinham sua insanidade intacta. Sofria em pleno caos pessoal, sem poder gritar pela ausência de boca, de cordas vocais, de língua, de qualquer manifestação corpórea através da qual pudesse se expressar. Era sua própria prisão, mesmo estando dentro de uma prisão maior, mais enlouquecedora e violenta. Seus irmãos eram víboras que vinham lhe atormentar a cada momento, por qualquer insatisfação, por qualquer dessabor… E como era estranho ter tantas coisas para tirar a mente do rumo, num local cheio de nada, nem o mais mísero dos átomos; mas repleto de rancor tão tangível.

Quis morrer por inúmeros horas. Ou eram dias? Ou anos? A sensação do tempo era tão fluída, tão questionável… Ainda mais quando se poderia existir por toda a eternidade naquele anonimato doloroso. Não era mais do que criatura, mas não poderia ser chamado de ser vivo. Existiu antes disso, antes dos átomos ausentes, antes da primeira batida de um coração. Existia, agora, em exílio.

Em parte era um castigo injusto, em parte, era uma penitência merecida. Rebelou-se contra seu próprio Criador, Senhor de todas as coisas sobre e sob a superfície, levantou armas e fez uso da raiva contra os seus semelhantes. Testemunhou um ideal de liberdade para a humanidade se transformar numa distorção do sonho do Príncipe entre os Anjos Caídos. Caiu em desgraça ao ponto em que o exílio, a punição, e o desespero se tornaram a única companhia com alguma misericórdia. De seus irmãos, recebeu apenas desrespeito, tortura, humilhação e ordens carrascas. Se tivesse um corpo, teria rasgado a própria forma em agonia, mas esse era um conforto que foi negado a cada um deles, Anjos Caídos, desgraçados aos olhos do Criador.

Contemplava um dos raros instantes em que podia ter apenas os gritos do lado externo a sua prisão. Eram gritos de dor, de lamento, de criaturas também infelizes. Escutava essa música mórbida há mais tempo do que poderia tentar mensurar, foi doce, no começo, enquanto pensava na própria desforra, na forma como eles também sofriam, que sua dor não era solitária e que recebia, de certa forma, vingança. Seu sorriso imaginário começou a se transformar numa expressão imaginária de amargura. Queria que eles parassem, gostaria de esfacelar cada um deles, silenciar aquelas vozes medonhas, tão horrendas que tingiam o nada absoluto que o circundava com algo tão vazio e ao mesmo tempo tão repleto de algo que lhe instigava medo. Quis todos mortos naquela época, queria todos mortos agora.


Enquanto repensava pela milésim… Seria a milésima mesmo? Certamente perdera a conta. Seja qual fosse essa vez, estava pensando em como aquilo era loucura, ficar pensando em círculos, num retorno sem fim das mesmas ideias, quando escutou a voz. Era ele.

De todos seus irmãos, ele sempre era o mais sagaz em ver sua mente se corroer em sofrimento. Tortura de sua essência, estupro de suas virtudes, espelho para refletir toda a verdade daquele confinamento. Eram “duas criaturas sujas”, ele repetia sempre que fazia uma visita.

- ESTAVA COM SAUDADES… - ele disse enquanto se aproximava.


- O QUÊ VOCÊ QUER, AGORA, NEPESU? - disse, enquanto o instinto lhe mandou, mais uma vez, munir de vontade de fuga, as pernas que não mais possuía.


- O QUE EU SEMPRE QUERO… VOCÊ! - e Nepesu riu da forma sarcástica de sempre, mas mais rápido do que o costume. - VOCÊ VAI SAIR DAQUI, IRMÃOZINHO, VAI SER UM HERÓI DE NOVO, VAI TRAZER UMA NOVA AURORA…


A dor percorreu sua existência, enquanto Nepesu, parecia arrastá-lo por um vale de espinhos. Normalmente, ele já estaria acostumado com tudo, mas Nepesu parecia ter um propósito maior desta vez. A tortura não continuava, não diversificava.


Alguns de seus outros irmãos apenas observavam a trajetória de mais uma submissão, outros acompanhavam o movimento, buscando alguma aproximação dos dois.


- NÃO HÁ TEMPO PARA PRELIMINARES, DESTA VEZ… OH, MEU IRMÃOZINHO, QUE SAUDADES EU VOU TER DE VOCÊ… MAS, ESCUTE BEM SUAS ORDENS, POIS É PELO TEU VERDADEIRO NOME QUE EU TE COMANDO… - e Nepesu usou o Nome Verdadeiro dele para obrigá-lo a obedecer.

Preso a seu Nome Verdadeiro, aquilo que guarda toda a essência de quem ele realmente é, não há Tormento, essa loucura cultivada nessa prisão, que pudesse interferir. As ordens de Nepesu foram dadas, eram claras, eram uma sentença de obediência e mais degradação.


Ele as escutou e passou pela abertura. Fugiu daquela prisão. Quase comemorou quando começou a sentir as garras invisíveis de sua maldição. O Criador o amaldiçoou a viver eternamente naquele castigo, é lógico que tenha criado, também, uma forma de manter a ele e seus irmãos lá. O poder de atração era intenso. Ele sentiu sua essência ser arrastada de volta e o desespero tomou conta, fazendo com que se agarrasse às proximidades. Abriu caminho através do puxão, através dos gritos e medos. Jorrou numa realidade completamente diferente, ainda sentindo a força que o perseguia, perdido, com necessidade de refúgio.


Por vezes, imaginou que não teria mais forças, quase desistiu e pensou em se deixar levar como um cadáver num rio, mas o medo de Nepesu e dos outros (e eram tantos outros!), o motivou por mais tempo na busca de um refúgio.


Então, ele achou seu refúgio. Não fora planejado, nunca teria imaginado que seria assim, mas aconteceu. Sentiu o último suspiro e a energia escapando daquele corpo, sentiu-se irresistivelmente levado até lá, como se ele e o cadáver fossem instrumentos complementares em uma música. Sentiu a dor dos ossos quebrados, o frio do corpo com extensa perda de sangue, enquanto o cigarro queimava um dos dedos.


Seu medo se misturou ao daquela pessoa. As memórias se juntaram de forma caótica. Nomes que nunca havia escutado surgiam com imagens de pessoas que nunca vira antes. Feitos épicos de eras testemunhadas por ele, pareciam completamente irreais, quando comparados com o conhecimento daquele humano a quem tinha acesso agora. Não havia um Criador do lado de fora da prisão, não haviam outros Anjos para lutar e mandar ele de volta.

Haviam outras preocupações com coisas que ele nunca tinha ouvido falar, ou sentido: assaltos, carros, boletos, dívidas de algo chamado “banco”, fome… Eram tantas que não conhecia, era uma estrutura completamente nova e estéril de qualquer glória divina da qual lembrasse. Notou que parte de suas próprias memórias se exauriam enquanto se tornava um híbrido naquele corpo hospedeiro.


Fechou os ferimentos como pôde. Sentiu o barulho dos ossos buscando retornar ao lugar, esquentou o sangue com parte do poder que ainda tinha. O coração batia, um som que parecia ser o único elo com um passado que mais parecia um sonho distante agora. Sentou-se no meio-fio da calçada e puxou mais um cigarro light. Os ovos estavam quebrados, meio secos e ainda dentro da embalagem amassada, o resto das compras, espalhados ao seu redor.


“20 pila… Tudo por míseros 20 pila.” - tragou profundamente enquanto pensava sobre isso. Teria que criar uma forma de explicar o corpo e as roupas ensanguentados, sem causar alarde na família. Teria que lembrar de não ficar dando seu nome por ai. - “Não sou mais TURAL, A LANÇA DAS HORAS... Sou Débora agora... Sou a Débora que está atrasada e numa aparência deplorável, num mundo no qual ninguém se importa… Mas, tudo bem… Eu sai! Estou livre!”.

* * * * * * *

- Morrigan (Kami) Ankh

@Pensando em RPG

@ Amarelo Carmesim

@Vale das Trevas


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