Olá, vampiros, lobisomens, magos, fadas, aparições e todas as criaturas deste vasto e glorioso Mundo das Trevas, seu amigo Precursor aqui de novo. A tão esperada sequência de Vampiro: Era Clássica do autor Chrystian Rissoli finalmente foi publicada no Storyteller’s Vault. Seu novo livro entitulado: A Queda de Cartago, como seu título implica, aborda o tema da ascenção e queda da grande utopia do Clã Brujah no coração da Tunísia. Mas antes de entrarmos de fato no que o livro aborda, temos uma coisa diferentes para expor nesse artigo. O autor concedeu ao Vale das Trevas uma entrevista para falar sobre suas inspirações para escrever o Era Clássica, responder algumas perguntas e falar um pouco sobre seus projetos futuros. Confira a entrevista abaixo:
- VdT - Qual foi sua inspiração para escrever a série Era Clássica?
- CR - Meus jogadores. Não houve inspiração maior do que eles. Eu só comecei o projeto pra poder narrar pra eles e de repente tomou uma proporção tão grande que eles me convenceram a publicar. Sem eles, provavelmente não teria o Era Clássica. Não por mim.
- VdT - Porque a mudança nas disciplinas de Rapidez, Potência e Fortitude?
- CR - Sempre achei que eram Disciplinas mal aproveitadas nos outros cenários. Na realidade, não fazia sentido pra mim você ficar limitado em cinco níveis e só poder fazer alguma ação relevante no nível 6. Entendo que a ideia era fazer com que anciões fossem aterrorizantes, mas isso não torna o jogo divertido e flexível. A mudança veio com a ideia de equilibrar as Disciplinas e deixar a jogabilidade bacana para jogadores e narradores.
- VdT - As filosofias seriam apenas um eufemismo para os caminhos de conhecimento ou elas teriam uma grande diferença temática?
- CR - Depende da forma com que o narrador encara. O objetivo é que sejam algo próximo a isso: Uma versão incompleta, talvez não tão poderosa do controle da Besta. A ideia é que nessa época os vampiros começassem a se organizar e debater sobre como poderiam vencer a Besta, inclusive levando isso como estilo de vida. No entanto, um narrador pode muito bem tornar essa questão inválida e trazer outro objetivo para os seu jogo.
- VdT - Como você diria que os vampiros da era clássica são diferentes dos da idade das Trevas?
- CR - Sim. A Idade das Trevas é representada de maneira bem diferente. O vampiros já sofrem efeitos das cruzadas, primeira inquisição e variantes. Na Idade das Trevas, o clima é até mais sombrio do que na Era Clássica. Os vampiros estão acostumados às sombras. A Era Clássica traz a ideia de revolução. A era das criações, das inovações, das descobertas. Isso tira um pouco do tema sombrio que conhecemos. Para os vampiros, é tempo de adaptação: Alguns se passam por seres míticos, outros estão aprendendo a se esconder e outros estão inovando junto com os mortais. Cada um tem seus perigos e formas de agir. No contexto geral, o maior problema para o vampiro da Era Clássica é que o mortal pode ter Sabedoria Popular o suficiente para enfiar uma estaca no peito dele ou usar fogo. Isso não é tão difícil. A ignorância não faz parte do povo. Não como na idade média.
- VdT - O intercâmbio cultural dos Clãs seria maior na era clássica do que na idade das Trevas?
- CR - Na minha visão, em nenhuma época isso é bem aceito. Os clãs tem sempre seus segredos e pela Jyhad ser algo sempre presente, seria dar armas para "seu inimigo te furar".
- VdT - De que forma os vampiros que vivem na era clássica são um reflexo da Humanidade desta época?
- CR - O vampiro é como um "camaleão social". Eles precisam aprender a se misturar dentre os mortais. Não só para facilitar a caça como também pra sobrevivência política ou natural. Isso impacta no comportamento deles. Naturalmente isso depende do clã porque os clãs tendem a adotar estereótipos. É comum ver o Ventrue andar entre patrícios e morar em palácios, assim como vai ser comum olhar pro Nosferatu e enxergá-lo dentre os leprosos moribundos. O vampiro tentará buscar meios que o façam parecer como os humanos ao redor porque facilita todo o trabalho dele, já que nem todos sobrevivem tempo suficiente pra que utilizem Presença em níveis consideravelmente avançados e todas as pessoas queiram servi-lo num piscar de olhos. Resumindo: A forma depende do comportamento do clã. Existem exceções, é claro.
- VdT - Em seu novo livro você dá ideias de crônicas que se passam nas guerras Púnicas. Você acha que essas crônicas que envolvem eventos históricos devem seguir o que aconteceu com o máximo de verossimilhança ou criar uma história totalmente diferente?
- CR - Acredito que toda crônica tem um clima de acordo com a mesa. Os narradores e jogadores tem suas preferências. Alguns gostam de fidelidade, outros gostam de mudanças. Particularmente, eu prefiro semelhança, mas brinco um pouco, dando sempre a possibilidade de mudança para os jogadores. Acho que a crônica deve seguir o que for mais divertido pra mesa.
- VdT - Qual o principal aspecto da era clássica que a torna um cenário totalmente próprio?
- CR - Acredito que seria o tema. A era clássica remete, pelo menos pra mim, um período de inovação, de ascensão da humanidade. Assim como dos vampiros. Ascensão política, artística, das civilizações. Isso é bastante refletido no cenário do livro.
- VdT - E sobre as outras criaturas das Trevas? Como magos, lobisomens ou aparições se encaixariam em crônicas da era clássica?
- CR - Com certeza. Estou vendo a possibilidade de criar cenários para estas criaturas no futuro. Era Clássica pode cobrir todo o cenário de Mundo das Trevas.
- VdT - Existe alguma coisa que você gostaria de ter feito no seus livros mas teve que deixar de fora?
- CR - Não, não houve. Até então, tudo o que escrevi, eu deixei exatamente como queria. Claro, algumas coisas eu tive de adaptar pra ficar coerente com os cenários oficiais. Mas tudo o que eu quis mudar ou adicionar, eu fiz.
- VdT - Como você se sente com a situação do mundo das Trevas atualmente?
- CR - Acredito que muitas coisas poderiam ter sido diferentes. Mas o que me deixa contente em relação a isso são as mudanças que estão surgindo no V5 cada vez melhores até então. Talvez W5 e M5 acompanhem o mesmo ritmo.
- VdT - Quais são seus próximos projetos?
- CR - Tenho ideias pra mais alguns, incluindo um que já comecei: Mitologia Cainita, provavelmente em dois volumes. Outros projetos devem incluir Grécia, Egito, Roma e outras regiões. Ainda estou escolhendo. Tenho ideia para mais, mas ainda estão só no papel.
Com isso podemos ir à review do livro. Como era de se esperar, Queda de Cartago está no mesmo nível, se não melhor, do que seu antecessor. Para aqueles que não conhecem a história da cidade no Metaplot de Vampiro: A Máscara, iremos fazer um breve resumo. Cartago era um sonho Brujah de reviver a Utopia Vampírica da Primeira e Segunda cidades criadas por Caim e os Antediluvianos respectivamente. Um local onde Cainitas e Mortais poderiam conviver sem medo de violência por ambas as partes. Um local onde a necessidade de secritude da raça Vampírica seria desnecessário. Vocês devem estar se perguntando, o que poderia dar errado?
Existem duas versões da história. A primeira é a versão do Clã Brujah, que afirma que os outros clãs, vendo o sucesso do projeto de convivência entre mortais e vampiros, ficaram com medo do poder que os Brujah conseguiriam com isso. O que os Brujah fizeram poderia ruir as tradições de Caim que os clãs utilizavam para deixar os mais novos como escravos. Os clãs ficaram com medo dos Brujah serem a fagulha que iniciaria uma revolta em nome da harmonia entre as duas espécies e então, liderados pelo Clã Ventrue, eles atacaram e destruíram a cidade, antes do que o que eles achavam que era subversão pudesse se espalhar pelos outros clãs.
É claro que como toda história, existem duas versões. Outra versão é contada por aqueles que atacaram a cidade. Os Filhos de Haqim, nesta época ainda conhecidos como Assamitas, viajaram até a cidade para investigar se os rumores eram verdade. O que eles encontraram lá era um antro de hedonismo e infernalismo. Cartago estava tomada de demônios. Com medo, o Clã dos Juízes foi até os Ventrue pedindo auxílio, e o resto como dizem por aí é história.
Qual das duas versões é a verdadeira e o que realmente aconteceu em Cartago? Bom é aí que o livro entra. Ao invés de ser uma crônica pronta, contando uma ou outra versão dos eventos, o livro na verdade se trata de uma obra de ambientação. O objetivo aqui é oferecer ao Narrador e Jogadores todas as peças, motivações e personagens para que juntos com a mesa possam contar uma epopéia épica da queda da cidade.
O livro inicia dando uma verdadeira aula de história sobre Cartago. A principal sessão desta primeira parte que possibilita entender o contexto histórico da Queda são as Guerras Púnicas. No Mundo das Trevas, elas se resumem nas investidas Ventrue à cidade e da resistência feita por aqueles que estavam dentro de seus muros. Até que a cidade finalmente perde durante a terceira guerra culminando na batalha das dezessete noites. Além disso existem detalhes sobre geografia, sociedade, economia e política mortais, e também o lado dos Cainitas e suas conspirações. Ler esta parte é essencial para traçar uma linha do tempo desde o início até o fim da crônica.
O Cainitas de Cartago possuem suas próprias filosofias e costumes políticos e eram bem diferentes de seus contemporâneos, e não por acaso já que a cidade era o lar de um Antediluviano. A organização política dos Vampiros não se dá por Clãs ou Famílias, mas sim em Casas. Este costume irá inclusive ser mantido durante a Idade das Trevas onde os Clãs se identificavam pelos brasões de suas casas mais do que pela sua linhagem. O ideal entre os vampiros é mais democrático em Cartago, mas isso também traz problemas já que existem casas um tanto... suspeitas, como a Casa de Ba’al.
Além dessas diferenças, temos a presença de um tipo novo de vampiro, os Legados dos Laibon, ou em termos leigos: Os Vampiros do Reino de Ébano. É importante ressaltar que apesar de serem considerados linhagens pelos Clãs (e estarem inclusive na sessão de linhagens do livro), os Legados não se veêm desta forma, o que pode gerar boas intrigas e discussões em mesas. Os Legados compartilham de um ancestral comum com os clãs e vem de uma origem bem mais antiga, na época que os clãs ainda estavam inseridos dentro de suas tribos. Os legados presentes no livro são: Akunanse, que compartilham de ascendência com o Clã Gangrel; Guruhi, que compartilham ascendência com o Clã Nosferatu; Mla Watu, que compartilham ascendência com o Clã Capadócio e Nkulu-Zao, que compartilham ascendência com o Clã Salubri.
Há ainda novas adições mecânicas no livro, tendo novos méritos e falhas, novos caminhos de necromância e feitiçaria de sangue, novos poderes de disciplinas, novas filosofias e novos personagens, e também vários rostos familiares como os Matusaléns Critias e Helena. O livro também trata em termos muito detalhado sobre o Infernalismo que infectava Cartago. O livro possui toda a explicação sobre o cenário para que o Narrador consiga mestrar crônicas com personagens e cenário na ponta da língua. Queda de Cartago pode ser adquirida no “Storyteller’s Vault” pelo preço de 9.99 dólares ou 54,47 reais. Espero que tenham gostado dessa review e como sempre boas campanhas e boa noite e boa sorte.
Yuri, O Precursor de Ashur.
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